quinta-feira, 12 de junho de 2008

Artesanato no Largo esconde problemas

Jorge Martins
Indígenas que expõem seus produtos na "feirinha" revelam que são discriminados e que é difícil vender suas mercadorias

A Feira de Artesanato do Largo da Ordem, em Curitiba, teve início há 37 anos na Praça Zacarias. O que seria apenas um modo de vida, tornou-se um meio de sustento da maioria de seus expositores. Tendo passado pela Praça Tiradentes e atualmente instalada no Largo da Ordem e Alto do São Francisco, a feirinha recebe cerca de 15 mil pessoas por domingo.
Oriundos de todas as classes sociais os feirantes têm todo tipo de mercadorias, desde calçados, roupas, eletroeletrônicos, frutas, doces, salgados e, "inclusive", artesanato, razão de existir da feira.
O vice-cacique dos caingangues Alcino de Almeida, 51 anos, 8 filhos, da tribo nonoai, disse que sua família comercializa seus produtos desde 1973, quando ainda estavam na Praça Zacarias. "Nós produzimos nossas mercadorias na aldeia e depois trazemos pra cá para vender. Produzimos elas à mão: os colares, os brincos de ossos e anéis. Não compramos nada. Fabricamos nossos próprios produtos", diz Almeida.
A aldeia kakanãporã, onde moram, está localizada na Rua Comendador Franco, Uberaba, e conta com 35 famílias da tribo nonoai, oriunda do Rio Grande do Sul, informa o vice-cacique.
Almeida revela que sempre foram discriminados pelos feirantes e perseguidos pela polícia, devido à sua origem indígena. "Muitas vezes perdemos todas nossas mercadorias para os fiscais da Prefeitura e para a polícia, pois os feirantes diziam que nós não podíamos expor nossos produtos aqui na feira", revela Almeida.
Conta que as condições na aldeia onde moram são péssimas, falta de tudo, pois não tem infra-estrutura. Os índios vivem de poucas doações, mas não querem somente isso. Querem independência e trabalhar pelo próprio sustento. "A Prefeitura está nos devolvendo umas terras ali no Tatuquara. Diz que vai fazer 35 casas para nossas famílias da aldeia e entregar para nós", conta o vice-cacique. Almeida usa a palavra devolução referindo-se ao fato de que as terras já eram dos indígenas e que o município não está fazendo "doação", como divulga, e sim devolvendo.
Atualmente, os índios e seus descendentes conseguiram um espaço um pouco maior no Largo da Ordem, mas eles querem mais. "Melhorou bastante, mas gostaríamos que fosse nossas mercadorias fossem mais divulgadas, pois somos nós que fazemos, com nossas próprias mãos, e depois trazemos para cá”, conta Setembrino, 48 anos, integrante de uma das famílias dos caingangues.
O espaço que ora ocupam na feirinha já vem sendo reivindicada há mais de 3 anos e somente agora é que foi oficializada pelo município de Curitiba. "Agora não tem mais perigo dos outros feirantes virem até aqui e mandarem a gente sair. Nem da polícia vir nos tirar deste local e levar nossas mercadorias. Mas queremos ganhar nosso próprio pão. Aceitamos, mas não queremos doação. Acho que nós temos condições de nos sustentar. Só queremos um espaço para poder expor nossos produtos", reivindica Almeida.

Jorge Martins

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